Apocalipse 7,2-4.9-14; Salmo 23; 1 João 3,1-3; Mateus 5, 1-12
Por que é necessário celebrar a festa de todos os santos? O ano inteiro estamos celebrando algum santo: São Tomás de Aquino, 28 de janeiro; Agostinho, 28 de agosto; Teresa de Lisieux, 01 de outubro etc. Por que, então, é necessário separar um dia para celebrar a festa de todos os santos? Porque existem duas razões importantes:
Primeiro, ao lado de tantos santos reconhecidos publicamente pela Igreja, cuja festa celebramos em seus dias específicos, há inúmeros outros santos e mártires, homens, mulheres e crianças, cujos nomes só Deus conhece e estão unidos com Ele na glória celeste. Muitos destes seriam nossos próprios pais e avós que foram mulheres heróicas e homens de fé. Hoje mantemos sua memória honrada. De muitas maneiras, portanto, a festa de hoje atinge todos os filhos e filhas de Deus. O livro do Apocalipse de São João nos revela algo sobre os que vão serão glorificados: “Vi multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro; trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão” (Ap 7,9).
Vejam meus irmãos, quem pode ser santo? A todos é oferecida a oportunidade, ninguém fica de fora, anotem o que disse o texto: “Uma multidão [...] de todas as nações”. Só Deus é Santo, mas Ele derrama-se sobre nós e nos santifica através do seu Espírito. Nele podemos ser santos quando experimentamos a vida de Deus e isso se expressa em nosso comportamento, passamos a viver com um comportamento que corresponde a tal santidade.
Em segundo lugar, outra razão para celebrarmos este dia é que podemos nos voltar para aquilo ao qual estamos todos destinados, à eternidade, à imortalidade. Os santos que celebramos eram homens e mulheres como nós. Onde estamos agora eles já estiveram, onde eles estão nós também iremos. Como cristãos, sabemos que a história de uma pessoa, a vida, não se limita ao que acontece com ela, entre o dia que nasceu e o dia que morrer. Nossa história começa antes de nascermos, na nossa concepção, e vai, além do dia em que morremos, para toda a eternidade. É por isso que nós simplesmente não conseguimos esquecer as pessoas depois que morrem. Por isso dizia Santa Teresa de Lisieux que iria passar a eternidade fazendo o bem sobre a terra. Aos nossos olhos mortais ela está morta e se foi. Mas aos olhos da fé, sabemos que ela está viva, mais do que nunca, porque ela agora está completamente viva em Deus. Ela agora está mais viva do que somos, porque a vida que ela goza agora já não pode ser diminuída pela doença, sofrimento, pecado, ou a morte.
Para alcançar a plenitude da vida como os santos, não acontece automaticamente sem nenhum esforço da nossa parte. “Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino do Céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus” (Mt. 7,21). Como podemos viver uma vida que faz a vontade do Pai? A resposta nos é dada no Evangelho de hoje, as bem-aventuranças, quando Jesus dá aos seus seguidores um roteiro para uma eternidade feliz. Todos os santos que celebramos hoje trilharam o caminho difícil e estreito das bem-aventuranças para chegar à felicidade celestial. Na festa de Todos os Santos a Igreja nos convida e desafia-nos à buscar a santidade, vivendo segundo os impulsos do Espírito Santo.
As bem-aventuranças nos propõem um modo de vida, convidando a nos identificar com os pobres, os que choram, os mansos e os que têm fome e sede de justiça. Elas nos desafiam a sermos sensíveis, homens e mulheres que tenham pureza no coração, e tornem-se construtores da paz nas relações uns com os outros, na família e na sociedade, mesmo quando a vivência dessas questões venham a nos expor ao ridículo e a perseguição. Nenhum dos santos que celebramos hoje tinha como objetivo na vida acumular riquezas, adquirir poder ou prestígios pessoais. Muito pelo contrário, olharam para frente para a recompensa eterna que Deus dá aos seus fiéis, ao final desta vida terrena cheia de ilusões.
Hoje somos convidados a percorrer o caminho dos santos, o caminho das bem-aventuranças. O caminho é estreito e cheio de durezas. Precisamos de fé e coragem para caminhar por ele. A fé assegura aos que viveram retamente segundo o espírito das bem-aventuranças, que ao final da vida vamos, juntamente com todos os santos, ouvir as palavras consoladoras do Senhor: “Muito bem, servo bom e fiel [...] vem participar da minha alegria!” (Mt. 25,21).
Por: Pe. Márcio Henrique Mendes Fernandes
Nenhum comentário:
Postar um comentário