segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

"Oração não é tempo perdido", defende Bento XVI


O Papa dedicou a Catequese desta quarta-feira, 2, a uma meditação sobre a vida e testemunho de Santa Teresa d'Ávila - também conhecida como Santa Teresa de Jesus -, um dos vértices da espiritualidade cristã de todos os tempos e responsável pela reforma da Ordem Carmelitana.

A santa sublinha a importância essencial da oração - "'significa conversar em amizade, porque frequentamos o cara a cara com Aquele que sabemos que nos ama' (Vita 8, 5)", diz Teresa em um trecho citado por Bento XVI .

"O tempo da oração não é tempo perdido, é tempo no qual se abre a estrada da vida, abre-se a estrada para aprender de Deus um amor ardente a Ele, à sua Igreja, e uma caridade concreta para os nossos irmãos. [...] A oração é vida e se desenvolve gradualmente de mãos dadas com o crescimento da vida cristã: começa com a oração vocal, passa pela interiorização através da meditação e o recolhimento, até alcançar a união de amor com Cristo e com a Santíssima Trindade. Obviamente, não se trata de um desenvolvimento em que subir aos degraus mais altos signifique deixar o precedente tipo de oração, mas é, mais que tudo, um aprofundamento gradual no relacionamento com Deus que envolve toda a vida", ensina o Santo Padre.

Acesse
.: Catequese de Bento XVI sobre Santa Teresa de Jesus

Teresa resume a verdade em dois princípios fundamentais: "de um lado, 'o fato de que tudo aquilo que pertence ao mundo daqui passa'; de outro, que somente Deus é 'para sempre, sempre, sempre', tema que retorna na famosíssima poesia 'Nada te perturbe / nada te espante; / tudo passa. Deus não muda; / a paciência tudo alcança; / quem tem a Deus, / nada lhe falta. / Só Deus basta!'", ressalta o Bispo de Roma.

O Pontífice  salienta que não é fácil resumir em poucas palavras a profunda e articulada espiritualidade teresiana, mas menciona alguns pontos essenciais do ensinamento da santa.

Em primeiro lugar, as virtudes evangélicas como base de toda a vida cristã e humana - como o desapego dos bens, o amor uns pelos outros, a humildade, a determinação e a esperança teologal -, sem esquecer as virtudes humanas - afabilidade, veracidade, modéstia, cortesia, alegria, cultura.

Em segundo lugar, uma profunda sintonia com os grandes personagens bíblicos e a escuta viva da Palavra de Deus.

Outro tema importante é a centralidade da humanidade de Cristo. "Para Teresa, de fato, a vida cristã é relação pessoal com Jesus, que culmina na união com Ele por graça, por amor e por imitação. Daí a importância que ela atribui à meditação da Paixão e à Eucaristia, como presença de Cristo, na Igreja, para a vida de todo o crente e como coração da liturgia".

Por fim, a perfeição é outro aspecto essencial da doutrina teresiana, entendida como aspiração de toda a vida cristã e meta final da mesma. Para Teresa, perfeição é habitar na Trindade, é união a Cristo através do mistério da sua humanidade.

"Na nossa sociedade, com frequência carente de valores espirituais, Santa Teresa ensina-nos a ser testemunhas incansáveis de Deus, da sua presença e da sua ação, ensina-nos a sentir realmente esta sede de Deus que existe na profundidade do nosso coração, este desejo de ver Deus, de buscar Deus, de estar em colóquio com Ele e de ser seus amigos. Essa é a amizade que é necessária para nós todos e que devemos buscar, dia após dia, de novo", expressou o Santo Padre.


Santa Teresa

A santa nasceu em Ávila, na Espanha, em 1515, em uma família numerosa, com nove irmãos e três irmãs. Aos nove anos, após ler sobre a vida de alguns mártires, improvisou uma breve fuga de casa para morrer como um deles, com o "desejo de ver Deus", como disse a seus pais. Fica órfã aos 12 anos.

Entra no mosteiro carmelitano da Encarnação, também em Ávila, aos 20 anos. Três anos depois fica gravemente doente, a ponto de permanecer quatro dias em coma, aparentemente morta. Em 1543, seu pai morre e todos os seus irmãos emigram, um após o outro, para a América. Em 1554, aos 39 anos, alcança o cume da luta contra as próprias debilidades e um profundo sentido da presença de Deus.

Em 1562, funda, em Ávila, o primeiro Camelo reformado. Nos anos seguintes, prossegue as fundações, que chegam ao número de dezessete. Em 1568, encontra-se com São João da Cruz e ambos instituem o primeiro convento dos Carmelitanos Descalços. Obtém de Roma a aprovação como província autônoma para os Carmelos reformados, ponto de partida da Ordem Religiosa dos Carmelitanos Descalços, em 1580.

Morre em 15 de outubro de 1582, em meio à sua atividade de fundação, no retorno a Ávila. Repete humildemente duas expressões: "No final, morro como filha da Igreja" e "Chegou a hora, meu esposo, em que nos veremos".

É beatificada por Paulo V em 1614 e canonizada, em 1622, por Gregório XV. É proclamada Doutora da Igreja pelo Servo de Deus Paulo VI, em 1970.

Uma de suas obras principais é o Livro da Vida, chamado por ela de Livro das Misericórdias do Senhor, composto no Carmelo de Ávila em 1565. A obra abrange o percurso biográfico e espiritual da vida de Teresa, com o objetivo de evidenciar a presença e a ação de Deus misericordioso na sua vida.

Em 1566, escreve Caminho de Perfeição. A obra mística mais famosa de Teresa é o Castelo interior, escrito em 1577 - é uma releitura do seu caminho de vida espiritual e, ao mesmo tempo, uma codificação da possível evolução da vida cristã rumo à sua plenitude, a santidade, sob a ação do Espírito Santo. Já á atividade de fundadora dos Carmelos reformados, Teresa dedica o Livro das fundações, escrito entre 1573 e 1582.

"Mais do que uma pedagogia da oração, a de Teresa é uma 'mistagogia': ao leitor das suas obras, ensina a rezar rezando ela mesma com ele; frequentemente, de fato, interrompe a história ou a exposição para irromper em uma oração", explica o Sucessor de Pedro.










A audiência

O encontro do Bispo de Roma com os fiéis reunidos na Sala Paulo VI aconteceu às 7h30 (horário de Brasília - 10h30 em Roma). A intenção do Papa é iniciar uma breve série de encontros para completar a apresentação dos Doutores da Igreja, no contexto de Catequeses dedicadas aos padres da Igreja e grandes figuras de teólogos e mulheres da Idade média.

De surpresa, uma criança dirigiu-se à presença do Papa e ficou alguns segundos diante de Bento XVI e de seu secretário pessoal, monsenhor Georg Gänswein.

Na saudação aos fiéis de língua portuguesa, o Papa salientou:

"Dou as boas vindas a todos os peregrinos de língua portuguesa, presentes nesta Audiência! Que o exemplo e a intercessão de Santa Teresa de Jesus vos ajudem a ser, através da oração e da caridade aos irmãos, testemunhas incansáveis de Deus em uma sociedade carente de valores espirituais. Com estes votos, de bom grado, a todos abençoo".

Como hoje celebra-se também o Dia da Vida Consagrada, o Santo Padre dirigiu algumas palavras referentes à data:

"Recomendo às vossas orações aqueles que, fazendo os votos de pobreza, castidade e obediência, buscam a santidade no serviço às crianças, aos jovens, às pessoas doentes, anciãs e sozinhas. Somos gratos às orações e trabalho que desenvolvem nas paróquias, nos hospitais, nas casas de repouso e nas escolas. O vosso serviço é, para a Igreja, um dom particularmente precioso. Abençoo de coração a todos aqueles que vivem seguindo os conselhos evangélicos".


Fonte: Canção Nova



Nenhum comentário:

Postar um comentário