Como podemos interpretar a misteriosa figura evangélica dos Magos? Quem
são eles e até que ponto a sua é a nossa “viagem”, o seu é também o
nosso itinerário de fé? Os Magos possuíam certo conhecimento e
poderes sobrenaturais, interpretavam sonhos e eram dedicados à
astrologia; não eram reis ou sábios. Eram originariamente membros da
classe sacerdotal persa. Chegados a Jerusalém os Magos perguntaram:
“Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos sua estrela
surgir no Oriente e viemos homenageá-lo” (Mt 2,1-2), essa “estrela” se
converteu em sinal do novo rei apenas nascido e lhes guia ao lugar onde
está o Menino: “Eles revendo a estrela, alegraram-se imensamente. Ao
entrar na casa, viram o Menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o
homenagearam” (Mt 2,10-11).
Não é errado pensar, que o que os magos
realizaram, com sua viagem, foi um autêntico caminho de fé. No começo de
um caminho há sempre um sinal que pode ser visto ali onde toda pessoa
vive ou trabalha. Os Magos perscrutaram o céu, interrogaram os astros;
para a Bíblia o céu é a sede da divindade e dali tiveram um sinal: uma
estrela. Os Magos descobrem e adoram Jesus aquele que haviam com
tanta ânsia buscado. Eles representam todos os que buscam a Verdade,
prontos a viver a existência como um caminho até o encontro com a luz
que vem do alto. O ícone dos Magos não cessou de prolongar-se nos vinte
séculos do cristianismo, e hoje inclui todos os não cristãos que buscam,
no claro-escuro de suas crenças, o único Deus verdadeiro e seu Filho
Jesus Cristo.
A “Festa de Reis” ou “Epifania” (manifestação,
aparição de Deus) nos mostra Deus e o ser humano em permanente caminhar,
em estado de “peregrinação” – isto é, em movimento, num movimento de
busca, de pesquisa, muitas vezes um pouco confusa que, definitivamente,
tem o seu ponto de chegada em Cristo. Mesmo se algumas vezes a estrela
se esconde. Ao mesmo tempo, mostra-nos Deus que por sua vez, está em
peregrinação, em direção ao ser humano.
Os Magos encontram Jesus
porque têm em seu coração fortes questionamentos. A experiência do
encontro com Jesus é verdadeiramente, uma provocação para a
evangelização e para a Igreja em todos os tempos: se impõe em sua
catequese a necessidade de diálogo, não privilegiar uma postura feita de
certezas ou preocupada por oferecer respostas pré-fabricadas, mas,
despertar nas pessoas perguntas significativas sobre questões cruciais
para a humanidade. Confesso que tenho medo do crente que tem resposta a
tudo e que não tem nenhum questionamento, “a fé não elimina as
perguntas. Um crente que nada se perguntasse, acabaria enrijecendo. Por
isso, não são perguntas fictícias, mas tipos de perguntas que eu também
deveria fazer a mim mesmo. mas essas perguntas são feitas por dentro do
abandono confiante, que está na base da fé. Nesse abandono confiante,
elas não são simplesmente afastadas, mas de alguma forma recolhidas e
entendidas”. (Bento XVI)
No itinerário de nossa fé, a resposta a
tantos questionamentos que nos fazemos, como nos ensina a experiência
dos Magos, não nos é dada pelo conhecimento intelectual ou saber acerca
do conteúdo das Escrituras, como no caso dos seus interpretes escribas
ou doutores da lei, mas em acercar-se a ela guiado pelo anseio, pela
pergunta. Para os Magos aquela indicação contida nas Escrituras Sagradas
foi iluminadora para cumprir a última etapa do seu caminho: Belém.
Também a Palavra de Deus lhes permitiu ver nos simples e humildes sinais
de uma casa, de um Menino com sua mãe, o rei dos judeus, o esperado de
Israel. Deixemo-nos iluminar por Jesus, sua luz e verdade e
arrebatar-nos pelo seu amor em nosso peregrinar de fé o encontremos, Ele
que é Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6).(Pe. Jose Assis Pereira Soares)
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