Irmãos e irmãs,
Neste domingo, a Palavra de Deus confronta a lógica dos homens, representada por Pedro e a lógica de Deus, assumida por Jesus, nosso Senhor. Caríssimos, vejam: Pedro anteriormente havia declarado o messianismo de Cristo, mas é evidente neste episódio narrado por Mateus a sua imaturidade espiritual no seguimento ao Mestre, porque o imagina isento do sofrimento, da dor e da incompreensão humana.
Jesus continua a dar aos discípulos no caminho “as instruções sobre o Reino de Deus”. E neste ensinamento, apresenta a Cruz, como realidade necessária à salvação. Renunciar a si mesmo, tomar sua cruz cada dia e segui-Lo, eis a proposta para o verdadeiro discípulo. O neo-paganismo vivido em nossa sociedade atual, ensina-nos a fugir da cruz ou em muitas ocasiões tenta pintar um Cristo “agradável” sem cruz, sem exigências, sem comprometimentos, sem doação!
Amar a cruz é dar-se a Deus e aos outros em “sacrifício vivo”, é renovar a mentalidade para discernir segundo a vontade de Deus o que é bom e perfeito, como exorta-nos hoje o apóstolo Paulo. É próprio de todo amor verdadeiro, a dimensão da cruz, pois esta nos indica a entrega, a doação, o serviço, a gratuidade! Do contrário, o amor a si mesmo, pregado pelo narcisismo contemporâneo, alimenta nas pessoas somente a “satisfação dos próprios apetites”. A pessoa pensa ser feliz recebendo muitos “mimos” e sendo bastante econômica quando se trata de oferecer de si mesmo aos outros. Por isso, tantas pessoas fracas, quando precisam encarar as dificuldades da vida!
Nós cristãos, sigamos o Mestre, mas o sigamos com a cruz redentora. Para nós, a entrega, a renúncia, a cruz vivida por cada um, não são derrotas, são caminhos de redenção! E o cristianismo não é uma religião dolorista, nem o cristão é uma pessoa conformada com a dor deste mundo. Pelo contrário, com a luz de nossa fé, lutamos contra a injustiça e os absurdos causados pelo egoísmo humano.
Há muita tentação em nós, como havia em Pedro, de um Cristo sem cruz, que nos poupe dos dissabores e sofrimentos cotidianos. Quem segue a Cristo, aprende a fazer das contradições, oportunidades para tonar-se mais consistente e forte. Em nosso tempo, precisamos de profetas destemidos, de “novos Jeremias”, que tenham a coragem de enfrentar o abandono dos homens, por causa da fidelidade a Deus e à sua Palavra.
Que o Senhor nos ajude a carregar nossa cruz de todos os dias, sem desviar do caminho do Mestre. Nas crises da vida, nos momentos de dúvida e de medo, não cedamos jamais ao “espírito do mundo”, caduco e apaixonado por si próprio. Saibamos com firmeza, testemunhar a vitória de Cristo pelo poder radiante da Cruz, sinal de nossa eternidade!
Pe. Luciano Guedes.
Pároco da Catedral de Nossa Senhora da Conceição.
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