Há cinquenta dias passados estávamos a celebrar o Tríduo da Paixão e
Morte e Ressurreição do Senhor. O Filho de Deus se entrega nas mãos dos
homens e sofre a violência da paixão. Hoje dia de Pentecostes celebramos
como que “as consequências da violência que os homens fizeram com o
Filho de Deus”. Celebramos a resposta que Deus dá a nossa violência para
com Ele. E a forma como Deus responde a nossa maldade e egoísmo é
dando-se Ele mesmo a nós e nos concedendo o dom do Espírito Santo. Aqui
podemos contemplar como Deus reage ao ódio humano, em um ato de
violência Deus nos oferece o seu amor. Deus se “vinga” do homem
ensinando-o e capacitando-o para amar.
Por isso, o Espírito Santo é
chamado Dom de Deus e o dom de Deus não pode ser outra coisa a não ser o
amor. O Espírito Santo se dá como extraordinária experiência de bondade
que invade o nosso espírito e o nosso corpo, em uma intensa emoção que
vibra em uma suave alegria, em uma harmonia interior que brota do
esplendor da beleza de Deus e nos remete ao belo que é o próprio Deus.
Como consequência deste dom, o cristão tem necessidade de abrir-se ao
outro, oferecer-se, o Espírito o torna capaz de ter compaixão sincera e
generosa. Se o Pai e o Filho nos doam a sua vida divina pelo Espírito,
nossa tarefa é transforma a nossa vida em um dom para Deus e para o
próximo, sentindo aquilo que ele sente, colocando-se no seu lugar,
entrando no seu coração e nos seus pensamentos e participando
diretamente na sua situação, até chegar a assumi-lo com total
generosidade, ou melhor, com a generosidade de Deus. Na realidade
receber o Espírito Santo é se humanizar. “A medida da santidade é a
medida da nossa humanidade”, dizia São João da Cruz.
Os apóstolos
estavam de portas fechadas com medo dos judeus. Porta fechada não apenas
do espaço físico, mas também do coração. Não sabiam amar, por isso eram
medrosos. Somente a força do Espírito Santo transformou homens tímidos
em anunciadores do Evangelho. Quantas vezes o medo paralisa a ação
evangelizadora: medo do fracasso, de enfrentar o mundo, medo de não
conseguir testemunhar a Palavra, das críticas, medo de mostrar as nossas
fragilidades, medo de amar, medo de doar-se, medo de se aproximar do
outro e mostrar para ele que o mesmo tem um lugar muito especial em
nosso coração. No fundo todos estes medos se resumem em um só: medo de
sermos humanos. A união com o Espírito nos liberta destes medos.
E
como podemos viver esta realidade do Espírito? Através da oração. Ela é a
força motriz de toda a vida, de todos os esforços humanos. É a
conversação com Deus, é a relação pessoal com Deus, é a união com Deus, é
a bússola do coração das virtudes. A oração é a expressão da vida do
Espírito Santo em nós, é o respirar do espírito, é o que mede a grandeza
da nossa vida espiritual. A Igreja respira com a oração e esta só é
autêntica quando nos vem do Espírito Santo. Devemos orar sem cessar até
que ó Espírito Santo desça sobre nós e nos torne homens e mulheres da
ternura.
Houve quem perguntasse a um Padre do deserto: "Qual a
perfeição da oração?" O Padre se pôs de pé, estendeu as mãos para o céu e
os seus dedos se tornaram como dez velas acesas, Disse o Padre então:
Deves tornar-te todo fogo.
O Espírito é necessário para a edificação
da Igreja. É o Espírito Santo que inflama a alma sem cessar e a une a
Deus. Princípio ativo por natureza, o Espírito Santo tem uma particular
natureza de fogo. No mundo espiritual, esta Força-Fogo derrama sobre as
criaturas as chamas da graça que nos faz participar da natureza divina.
Flamejando línguas de fogo que vão pousar sobre a fronte dos eleitos,
circundando-os de glória, a graça com os seus dons diversas, doados pelo
Espírito Santo, doador por excelência.
O Espírito Santo derrama
sobre o cristão os seus carismas e faz da criatura o reflexo vivo do
esplendor do Verbo, revestindo-a da glória de Cristo-Deus. O cristão
cheio do Espírito Santo é transformado em Jesus Cristo. É a festa
trinitária na vida do cristão. É no centro de nossa alma que o Espírito
pode operar a nossa transformação e através das nossas mãos e pés
direcionados para o outro que mostramos ao mundo que não vivemos segundo
a carne e sim segundo o Espírito. Tomemos consciência desta presença. (Pe. Paulo Sergio Gouveia)
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