A
liturgia deste décimo quinto domingo do Tempo Comum, convida a abrir o coração
e fazer dele “terra boa”. Para que uma terra seja boa, é preciso cuidar dela,
revirá-la, remover o que nela está sendo daninho. Quem já lidou com a terra,
sabe quais os cuidados necessários para que ela fique pronta para a semeadura.
O nosso coração precisa se transformar
numa “terra boa”, aonde a semente da Palavra será lançada, e para que isso
aconteça ele precisa ser cuidado. E quando falo de coração, quero falar da
alma, do entendimento e de tudo o que se constitui o nosso ser. É urgente
cuidar de tudo isso. Imagino que a melhor forma que temos para cuidar do nosso
coração, é nos aprimorando numa espiritualidade, é aproximando-se de Deus.
Assim, todo homem e toda mulher que tem fé,
conseguirão compreender melhor os apelos de Deus, conseguirão fazer do coração
uma “terra boa”, para receber a semente da Palavra. Isso acontece, porque a fé
faz toda diferença na nossa vida, a espiritualidade faz com que a vida não seja
um fardo pesado. Quem acredita em Deus e sua Palavra, enfrenta melhor os seus
próprios conflitos, perturbações, inquietações e solidão. Cada um sabe muito
bem, que não foram poucas as vezes em que na nossa solidão, quem nos acompanhou
foi a nossa fé, nossa espiritualidade.
É isso que ajuda a sermos melhores no
nosso trabalho, quando são grandes os conflitos, quando somos perseguidos e
incompreendidos. E nestes momentos difíceis, onde procuramos apoio, onde nós
nos protegemos? Sem dúvida, é na fé que buscamos essa sustentação, é na
espiritualidade que temos dentro do coração que nos amparamos. Esse apoio da fé
e da espiritualidade, faz-se necessário em toda as realidades da nossa vida. É
assim que nosso coração se transforma numa “terra boa”, para que a semente da
Palavra de Deus possa cair, germinar e produzir frutos.
É assim que nos tornamos sensíveis àquilo que
Deus quer falar, nos tornamos sensíveis ao diálogo que Deus estabelece com cada
um de nós. Eis o caminho que Deus escolhe para entrar em diálogo conosco: sua
Palavra. A Palavra que é proclamada pela boca dos profetas, aquela que ouvimos
quando ligamos a televisão num canal católico e assistimos a Santa Missa,
quando ouvimos uma pregação. Essa Palavra que, muitas vezes, é anunciada dentro
de uma comunidade, através de um testemunho que ouvimos e a partir dos serviços
de catequese.
Desse modo, quando temos fé, quando
temos espiritualidade, Deus vai falando conosco, vai mostrando o que ele quer,
vai revelando os seus apelos, vai nos consolando, vai nos confortando, vai nos
fortalecendo e, consequentemente, nos empurrando para frente. É por isso que o
convite da liturgia de hoje, é para que possamos ter essa sensibilidade de
cuidar do nosso coração, da nossa alma, do nosso entendimento e de tudo aquilo
que nos forma como pessoa. Então cuidemos, porque uma terra mal cuidada não
produz nada, e quando produz, produz uma planta minguada e franzina que não dá
frutos.
Cuidemos da “terra” que é o nosso coração, que
somos nós, para que Deus fale, para que nós possamos superar nossa mentalidade
muito racionalista. Qual é o motivo pelo qual muitas pessoas se distanciam da
fé, se afastam da religião procurando diversas espiritualidades não-cristãs?
Porque, justamente, vivemos num mundo de muita racionalidade. Com efeito,
quando usamos demais a nossa razão, o nosso coração vai secando, vai se
fechando; o nosso coração vai se tornando uma “terra improdutiva”, porque tudo
nós queremos questionar, tudo para nós se não tiver uma explicação lógica não
faz sentido. E na fé não é assim. Na fé você é chamado a se lançar no
misterioso, a ter uma espiritualidade que acredita na Providência Divina, mesmo
que os olhos não enxerguem possibilidades. É crer que Deus está no comando e
irá conduzir tudo da melhor forma.
Quem cuida do coração ameniza os
conflitos racionais. Cuide do seu coração, de tudo aquilo que lhe compõe, para
que você seja uma pessoa diferente no seu modo de ser e agir, na sua forma de
conversar, no jeito de acolher pessoas dentro de sua casa. Diferente quando
tiver que responder lá no trabalho a quem lhe convida a ser injusto, a ser
maldoso ou a quem lhe ataca com perseguição. Diferente pela bondade, pelas
amizades e porque não faz as coisas erradas que lhe convidam só para agradar.
Seja diferente, seja cristão! Diante desse pensamento, tenhamos consciência de
que a presença de um cristão será sempre uma presença questionadora e incômoda,
frente ao que acreditamos não ser correto.
Como é admirável ver pessoas nas
comunidades que são diferentes pelo modo de se comportarem, pela vida serena,
pessoas que são sensíveis e atendem prontamente aos apelos dos dons, carismas e
serviços. Como é belo ver gente bondosa, gente que partilha suas posses com os
pobres, gente disponível e generosa com Igreja, pessoas que possuem o coração
diferente.
Portanto, que o nosso coração, aquilo
que nos compõe, cresça cada vez mais como “terra boa”. Mas não se esqueça que
para ser “terra boa”, precisamos cuidar e encontrar uma forma correta e
inteligente, ou talvez mais do que inteligente, cheia de sabedoria para saber
cuidar dessa terra. Aí com certeza, a semente cairá e produzirá muito frutos,
porque deixamos que Deus pudesse encontrar um caminho, um meio para falar com
cada um de nós. Amém!
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