O evangelho deste domingo
começa afirmando que “um leproso chegou perto de Jesus”. Na realidade
não foi o leproso quem chegou perto de Jesus e sim o Senhor quem chegou
perto do leproso. Quem é este leproso? Todo homem marcado pelo pecado e
que por isso perdeu a sua dignidade. Somos todos nós. Não é o homem quem
vai ao encontro de Deus e sim Deus quem vem ao encontro dos homens.
Na realidade podemos afirmar que este evangelho é a síntese de toda a
obra da redenção trazida por Jesus. Depois do pecado dos nossos
primeiros pais perdemos a primeira veste e a nossa pele foi desfigurada
pela lepra do pecado. Como afirma a primeira leitura, já não podemos
habitar no acampamento, por isso fomos expulsos do paraíso, ficamos
isolados da comunhão com Deus. Aqui está a grande consequência do pecado
“ficar isolado e morar fora do acampamento”.
A ideia do “morar
fora do acampamento” tanto tem o sentido do paraíso perdido, da comunhão
com Deus que foi rompida, do céu fechado para o homem, como também,
podemos compreender a atitude de quem mora fora de si mesmo, na condição
de homem dividido, que não consegue mais ter interioridade,
espiritualidade, que vive fora de suas energias interiores, sem
conseguir estabilizar a sua identidade.
Lembro aqui de um
personagem bíblico, Josué, que segundo o livro do êxodo (33,11) estava
sempre na Tenda da Reunião, lugar do encontro com Deus, nunca se
afastava desta tenda. Lembro também de Jacó que era um “homem tranquilo
morando sobre tendas” (Gen 25, 27), mas lembro de Dina, filha de Jacó,
que um dia se afastou da tenda (Gen 31,1) e foi abusada pelos
siquemitas. Longe da tenda do encontro com o Senhor, fora do
acampamento, não podemos encontrar tranquilidade, serenidade para dar
sentido à vida.
Podemos nesta liturgia meditar sobre a nossa
“localização existencial cristã”. Quando Adão e Eva pecaram, se
esconderam de Deus e ai o Senhor perguntou: “Adão onde estas?”. Onde
estou? No acampamento ou fora dele? Estou andando a “esmo” como disse
Satanás a Deus no livro de Jó?
Mas um dia este homem leproso tem um
encontro com Jesus, o Filho de Deus, que também saiu da Tenda do seu
Pai no céu, não por que tenha pecado, mas saiu para vir ao encontro do
homem pecador. Cristo se fez pecado para, assumindo o nosso pecado, nos
livrar dele. É justamente isso que vamos encontrar no relato do
evangelho. Um leproso está diante de Jesus, à criatura diante do
criador, o doente diante do médico, a miséria diante da misericórdia, o
desespero diante da esperança, o ódio diante do amor. Podemos imaginar
aqui como deve ter sido o olhar contemplativo de Jesus sobre este homem.
O artista ver a sua obra que havia criado bela, mas está desfigurada,
quase não a reconhece mais. Mas ele não a rejeita, pelo contrário veio
em busca dela, o bom pastor encontra a sua ovelha e sente por ela um
profundo amor. Jesus tem o remédio certo para curar sua ovelha, para
livrá-la da lepra e este remédio é a compaixão.
Poderia ter curado o
leproso apenas com o seu olhar, ou com sua palavra, mas fez muito mais
do que isso, por que tudo para o amor é possível, o amor não se contenta
com o mínimo, ele dar tudo, ele faz tudo e o amor e a compaixão de
Jesus é enorme. E ai o Senhor “não perde tempo”, se precipita para o
leproso, estende a mão e o toca, Ele quer sentir a espessura das
feridas, sentir o resto de vida que aquele corpo dominado pelo pecado
ainda tem.
A Pureza carregada de compaixão toca na impureza e a
compaixão faz com que a impureza seja destruída, faz com que a ordem da
criação seja colocada mais uma vez em ordem e que o homem recupere a sua
primeira veste, sua dignidade original. Orígenes diz que “ao estender a
mão para tocar no leproso a lepra desapareceu; a mão de Jesus não
encontrou a lepra e sim um corpo curado”. Vamos pensar assim: o amor de
Jesus foi tão grande por aquele homem que no espaço entre o olhar e o
tocar o mal desapareceu. São João Crisóstomo diz “não foi à mão do
Senhor que foi contaminada pela lepra e sim o leproso é que foi
purificado pela mão divina”.
Pensemos em nós, em nossas impurezas,
olhemos para Jesus e deixemos que ele nos olhe, nos ame com o seu olhar e
nos envolva com a sua compaixão e destrua também “as lepras” que ainda
insistem em permanecer em nossas vidas. Com certeza ele o fará, por que
foi para isso que Ele veio
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