terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O jejum, além de ser sinal do desejo de conversão, é também sinal de espera - Pe Jose Assis Pereira Soares


“Disse-lhes Jesus: Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão”. (cf. Mt 9, 14-15)

O jejum, além de ser sinal do desejo de conversão, é também sinal de espera. O próprio Jesus, como os discípulos de João Batista, jejuou no deserto, assumindo em si a longa espera do “esposo”. O “esposo” é Jesus, chegado este, acabou o jejum e começou a festa de casamento. Depois da ressurreição retomará seu significado, no tempo da Igreja (esposa de Cristo), entre o momento em que lhe for tirado o esposo e o seu retorno. O noivo agora está ausente; foi glorificado e não é visível aos nossos olhos. Dispomos apenas de sinais da sua presença: a palavra, os sacramentos, os pobres, onde ele está disponível ao nosso amor. 

Neste intervalo entre a sua glória e a nossa entrada na glória, é-nos dado saciar o jejum de sua presença no encontro com sua presença crucificada, onde Ele está conosco até o fim dos tempos. Só então entraremos com Ele para as núpcias definitivas e tomaremos parte, num banquete sem fim, na sua perfeita e plena alegria. 

A Quaresma exige de nós cristãos católicos a prática do jejum corporal; porém, sobretudo, o jejum que Deus nos pede não é só a nossa privação, é uma total conversão em obras e não só em palavras e ritos externos. A participação nos sofrimentos dos irmãos, nos quais continua o sofrimento de Cristo. A conversão é a que vai produzir em nós a mais profunda solidariedade.

Qual a penitência, o jejum que Deus quer? Não seria “quebrar as cadeias injustas... romper todo tipo de sujeição? Não é repartir o pão com o faminto, acolher em casa os pobres? Quando encontrares um nu, cobre-o..." (cf. Is 58, 1-9)  A penitência que Deus quer, a única que tem sentido, é aquela que se traduz em caridade, justiça e libertação do próximo. O jejum cumprido por amor a Deus e dos irmãos é sinal do desejo de conversão; neste sentido, conserva ainda hoje o seu valor. Não é o comer ou o jejuar que importa: o que faz verdadeiro o jejum é o espírito com que se come ou se jejua.

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