Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)
Bispo de Jales (SP)
Talvez como nunca, uma assembleia da CNBB foi tão produtiva como
esta última. Tantos assuntos, aprovados com tanta convergência. Tamanha, que
chegou a pairar um exagero de adesões, uma demasiada concordância, a ponto de
despertar algum temor de ter deixado passar alguma palavra ou frase menos
adequadas.
Mas, se observamos bem certos detalhes, podemos identificar as
razões desta rapidez de concordância. Os dois principais assuntos já tinham
sido estudados na assembleia de 2013, sobre a Paróquia e sobre a Questão
Agrária. E os outros assuntos inseridos na pauta deste ano, eram muito
oportunos. Além disto, as comissões encarregadas de preparar os textos e
examinar as emendas, trabalharam muito bem, inspirando confiança no plenário, e
abrindo caminho para a aprovação final de cada texto.
Olhando a pauta, encontramos outra razão da diversidade de
assuntos. Bispos reunidos em assembleia não podiam deixar de dizer uma palavra
sobre os fatos importantes que estão na agenda deste ano. Até sobre a Copa do
Mundo lançaram sua mensagem. E não se omitiram de falar sobre as próximas
eleições, e de expressar sua preocupação com a crescente onda de violência que
assusta o Brasil.
Tanto que em decorrência desta preocupação, foi lançado um “ano da
paz”, em que a sociedade brasileira será convocada a enfrentar, solidariamente,
os desafios contidos nesta complexa situação.
A nível mundial, a CNBB acolheu a proposta, trazida pela Cáritas
Brasileira, de se fazer uma campanha contra a fome no mundo, iniciativa que já
conta com a firme adesão do Papa Francisco. E para encontrar logo uma maneira
prática de atuar nesta campanha, ficou decidido que no próximo ano, a coleta da
Campanha da Fraternidade destine cinquenta por cento de sua arrecadação para o
Haiti, país que ainda está penando para se reerguer das consequências do
terremoto que se abateu sobre ele.
A assembleia decidiu, também, apoiar a iniciativa popular de lei,
com a proposta de uma verdadeira reforma política. Com isto, a CNBB mostra que
identifica bem onde está o nascedouro dos problemas que afligem o país,
enredado nos equívocos do seu sistema eleitoral. Pode ser que a sociedade não
se lembre muito da Igreja. Mas a Igreja não esquece os problemas sociais. Tanto
é verdade que a Campanha da Fraternidade do próximo ano, terá como tema,
exatamente, a Igreja e a Sociedade.
Tudo isto fez parte desta assembleia. E muito mais. Foram diversas
as sessões dedicadas à partilha de preocupações e dificuldades, inerentes à
missão cotidiana de cada bispo. Pois a finalidade primeira, e mais importante,
da assembleia da CNBB é o convívio fraterno e a ajuda mútua entre os próprios
bispos, que, por exemplo, repartem entre si os gastos das passagens, e além
disto são incentivados, na medida das possibilidades de cada um, a ajudar os
que provêm de dioceses mais pobres.
Para fins de ação concreta da Igreja, neste ano em que já
celebramos a Páscoa, e agora a assembleia da CNBB, parecem bastante claras duas
referências práticas a guiar a ação pastoral: acolher as propostas do Papa
Francisco, expressas sobretudo em sua exortação Evangelii Gaudium, e iniciar a
renovação eclesial, começando por renovar nossas paróquias. Para que assim a
Igreja se torne mais missionária, aberta para acolher, e pronta a sair de si
mesma, para ir ao encontro dos que necessitam da mensagem libertadora do
Evangelho.
Depois de uma assembleia como esta, dá para apostar nas novas
esperanças, que este tempo propício nos descortina pela frente. (Fonte; http://www.cnbb.org.br/)
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