“Na
Eucaristia se comunica o amor do Senhor por nós: um amor tão grande que nos
nutre com Si mesmo; um amor gratuito...”, disse o papa Francisco na homilia
durante missa da Solenidade de Corpus Christi celebrada na Basílica de São João
Latrão, em Roma, na quinta-feira, 19.
Uma
multidão de fiéis participou da celebração e ouviu as palavras do papa que
meditou o significado da solenidade do Corpo e Sangue de Cristo. Francisco
disse que “além da fome material o homem leva consigo outra fome, uma fome que
não pode ser saciada com comida comum. É a fome de vida, fome de amor, fome de
eternidade”.
O
papa comentou que “viver a experiência da fé significa deixar-se alimentar pelo
Senhor e construir a própria existência não sobre bens materiais, mas sobre a
realidade que não perece: os dons de Deus, sua Palavra e seu Corpo”.
Confira
a íntegra da homilia:
"O
Senhor, teu Deus, (...) te alimentou com o maná, que tu não conhecias" (Dt
8,3).
Estas
palavras de Moisés fazem referência à história de Israel, que Deus fez sair do
Egito, da condição de escravidão, e por quarenta anos o guiou no deserto para a
terra prometida. Uma vez estabelecido na terra, o povo eleito atingiu uma
autonomia, um bem-estar, e correu o risco de esquecer as tristes vicissitudes
do passado, superadas graças à intervenção de Deus e à sua infinita bondade.
Então as Escrituras exortam a recordar, a fazer memória de todo o caminho feito
no deserto, no tempo da penúria e do desconforto. O convite de Moisés é o de
voltar ao essencial, à experiência de total dependência de Deus, quando a
sobrevivência foi colocada em suas mãos, para que o homem compreendesse que
"não vive apenas de pão, mas de tudo aquilo que procede da boca do Senhor"
(Dt 8,3).
Além
da fome material o homem leva consigo outra fome, uma fome que não pode ser
saciada com comida comum. É a fome de vida, fome de amor, fome de eternidade. O
sinal do maná – como toda experiência do êxodo – continha em si também esta dimensão:
era figura de uma comida que sacia esta fome mais profunda que existe no homem.
Jesus nos dá este alimento, assim, é Ele mesmo o pão vivo que dá vida ao mundo.
Seu Corpo é verdadeira comida sob a espécie de pão; seu Sangue é verdadeira
bebida sob a espécie de vinho. Não é um simples alimento com o qual sacia
nossos corpos, como o maná; o Corpo de Cristo é o pão dos últimos tempos, capaz
de dar vida, e vida eterna, porque a substancia deste pão é Amor.
Na
Eucaristia se comunica o amor do Senhor por nós: um amor tão grande que nos
nutre com Si mesmo; um amor gratuito, sempre à disposição de todos os famintos
e necessitados de restaurar as próprias forças. Viver a experiência da fé
significa deixar-se alimentar pelo Senhor e construir a própria existência não
sobre bens materiais, mas sobre a realidade que não perece: os dons de Deus,
sua Palavra e seu Corpo.
Se
olharmos ao nosso redor, daremos conta de que existem tantas ofertas de
alimento que não vem do Senhor e que aparentemente satisfazem mais. Alguns se
nutrem com o dinheiro, outros com o sucesso e com a vaidade, outros com o poder
e com o orgulho. Mas a comida que nos alimenta verdadeiramente e que nos sacia
é somente aquela que nos dá o Senhor! O alimento que nos oferece o Senhor é
diferente dos outros e talvez não nos pareça assim saboroso como certas
iguarias que nos oferecem o mundo. Agora sonhamos com outros alimentos, como os
hebreus no deserto que choravam a carne e as cebolas que comiam no Egito, mas
esqueciam que aqueles alimentos eram comidos na mesa da escravidão. Eles,
naqueles momentos de tentação, tinham memória, mas uma memória doente, uma
memória seletiva.
Cada
um de nós, hoje, pode se perguntar: e eu? Onde quero comer? Em que mesa quero
me alimentar? Na mesa do Senhor? Desejo comer comidas gostosas, mas na
escravidão? Qual é minha memória? Aquela do Senhor que me salva ou a do alho e
das cebolas da escravidão? Com que lembrança eu satisfaço minha alma?
O
Pai nos diz: "Te alimentei com o maná que tu não conhecias".
Recuperemos a memória e aprendamos a reconhecer o pão falso que ilude e
corrompe, porque fruto do egoísmo, da auto-suficiência e do pecado.
Daqui
a pouco, na procissão, seguiremos Jesus realmente presente na Eucaristia. A
Hóstia é nosso maná, mediante o qual o Senhor nos dá a si mesmo. A Ele nos
dirigimos com fé: Jesus, defende-nos das tentações do alimento mundano que nos
faz escravos; purifica nossa memória, para que não se torne prisioneira da
seletividade egoísta e mundana, mas seja memória viva da tua presença ao longo
da história do teu povo, memória que faz "memorial" do teu gesto de
amor redentor. Amém.( http://www.cnbb.org.br/)
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