sábado, 22 de outubro de 2011

Reprodução assistida e célula-tronco: consultor do Vaticano explica




A Igreja Católica está sempre em diálogo com a sociedade contemporânea, buscando dar respostas para os anseios do homem para o bem da sociedade. A Pontifícia Academia para a Vida, por exemplo, reúne profissionais de diversas áreas, como teólogos, cientistas e médicos, a fim de dar um respaldo sobre as principais questões relacionadas à biomedicina e ao direito, ligados à promoção e à defesa da vida, a partir do Magistério da Igreja.

Questões como a reprodução assistida e o uso de células-tronco embrionarias geram polêmicas e discordâncias por parte até mesmo dos católicos. Para entender melhor estas questões o noticias.cancaonova.com entrevistou o membro do Conselho Diretor da Pontifícia Academia para a Vida e da Organização Mundial da Saúde, Dr. Mounir Farag.


Por que a Igreja é contra as técnicas de reprodução assistida?

Dr. Mounir Farag: Eu não vou responder como Igreja, mas falarei como médico a partir do ponto de vista científico. Nós sabemos que existem vários tipos de técnicas de reprodução assistida: heteróloga, homóloga, in vitro, in vivo, etc. Eu falarei da mais lógica, ou seja aquela homóloga que recebe a participação dos dois genitores, o pai e a mãe. Porque a Igreja não aprova isto? Existem muitas razões, mas muitos não aceitam se diz-se, por exemplo, que o matrimonio normal e natural é a união entre homem e mulher, marido e esposa e a unidade de ambos é a procriação, sendo vontade de Deus ou da natureza.

Quando se fala de reprodução assistida, existe uma terceira pessoa que entra e não trata-se de um tratamento de doença. Quando procuro uma cura para minha doença vou ao médico e não à minha mulher, ela me acompanha, mas deixa que eu seja curado pelo medico. Já na reprodução assistida, tem um medico e um instrumento de laboratório que atua como a terceira pessoa. O que quero dizer com isso?

Quando se faz a reprodução assistida homóloga são retirados diversos óvulos do ovário da mulher. No ovário, são colocados hormônios que o ativam para que ele produza, cinco, seis ou sete óvulos.  Depois, pegam o espermatozoide e fecundam um dos óvulos. O espermatozoide e o óvulo são células, mas quando unidos, não são mais células e se tornam um ser humano, um ser humano completo que começará a crescer. O que se faz?

Nós, como médicos, escolhemos um ou também fazemos vários seres humanos: Paula, Roberto, Pedro, Nicole. Também nós escolhemos o melhor e os outros condenamos à morte. Não é porque eu desejo um filho que eu faço esta coisa, o trato como objeto e tenho o direito de assassinar os demais. Isto é uma coisa cruel se eu penso que posso assassinar um filho que está diante de mim.

Se deve deixar toda a liberdade para o casal, mas antes devemos forma-los bem. Mas eles devem se questionar: “Eu pensarei conforme os meios de comunicação, como os médicos, ou conforme a  Igreja?” Ao lembrar daquela regra de ouro [Trate os outros do modo como você mesmo gostaria de ser tratado] Devo pensar: “Eu gostaria de ser criado e depois assassinado? Se não, não devo fazer o mesmo. A Encíclica Evangelium Vitae, de João Paulo II que fala sobre o assunto.


E em relação ao uso de células-troco embrionárias, por que a Igreja não é favorável?

Dr. Mounir Farag: 
Nós da Pontifica Academia para a Vida abordamos todos os anos um tema da atualidade. Há dois anos, por exemplo, abordamos a questão genética. No ano passado, pela segunda vez,  falamos sobre as células-tronco, e mais especificamente, sobre o sangue presente no cordão umbilical. Ali  examinamos os vários trabalhos e contamos com a presença de especialistas, médicos, juristas, filósofos e teólogos. Abordamos muitas questões, já que a Igreja apoia muitas pesquisas e estudos neste campo.

Eu pessoalmente coordenei um dos temas do evento porque, no ano passado, foram tratados dois temas, entre eles a Síndrome pós-abortiva, ou seja o que acontece com as mulheres depois de um aborto. Eu falei sobre as células-tronco e, inclusive, a Igreja apoia muito o uso das células-tronco adultas, que são aquelas retiradas do cordão umbilical. Isto é aprovado e, além disso, existem estudos e evidências que consideram, inclusive, o uso delas [células-tronco adultas] melhor do que o uso de células-tronco embrionarias. Então pergunto: Para quê criar embriões para  retirar deles células-tronco sendo que as células-tronco adultas podem ser retiradas do cordão umbilical que não custam praticamente nada e dão o mesmo resultado para todas as doenças?

Fonte: Canção Nova

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