domingo, 26 de abril de 2015

HOMILIA DE SÃO GREGÓRIO MAGNO, PAPA E DOUTOR DA IGREJA (SECULO V) PARA O DOMINGO DO BOM PASTOR - Pe. Paulo Sergio Gouveia

Ouvistes, caríssimos irmãos, no ensinamento do santo Evangelho preceitos para a vida; e ouvistes também coisas que revelam nosso perigo; e observai com atenção que o Senhor, que é bom por seu próprio ser, e não por alguma virtude adquirida, disse: “Eu sou o bom pastor”. E para que seu exemplo nos torne bons, disse: “O bom pastor da a sua vida por suas ovelhas”. Ele fez o que ensina, e nos mostrou o que é que devemos fazer. 

O bom pastor deu a sua vida por suas ovelhas, para dar-nos sua carne e sangue no santíssimo sacramento, aonde as ovelhas redimidas poderiam se sustentar em sua graça. E tendo-nos ensinado que devemos fazer pouco caso da morte, quis dar-nos a regra para que a sigamos. A primeira coisa que nos manda é que, para auxilio das ovelhas, nós os pastores, partilhemos com liberalidade todos os nossos bens exteriores com muita caridade; e depois disto, se for necessário, que ofereçamos também nossa vida pela salvação das mesmas ovelhas.


Do primeiro, que é muito pouco, sobe-se ao segundo, que é mais importante. Mas como a alma é mais estimada, e sem comparação de alto valor, e mediante a qual vivemos, que não há bens que lhe compare; aquele que não oferta seus bens como socorro para suas ovelhas, quando creremos que dará a própria vida? E é daqui que muitos perdem o nome de pastor, e com razão, pois valorizam mais os bens, que a vida das ovelhas que lhe foram confiadas, e é deles que se diz “O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge”. 



Este não é pastor, mas mercenário, porque não apascenta as ovelhas do Senhor pelo amor que as tem, mas somente para ganhar a diária que lhe pagam. Sem dúvida, é mercenário aquele que tem emprego de pastor, e não procura o bem das almas de suas ovelhas, dando atenção apenas às rendas e as ganâncias que dali colhe. Desfruta na honra de pastor na qual se vê: apascenta-se a si mesmo dos proveitos temporais que dali tira, e se alegra de ver que todos o têm em grande reverência.



Esta é a verdadeira paga do mercenário, encontrar as coisas que ama desta vida em pagamento de seu trabalho, ainda que nunca suba nem entre no céu, que é a herança das ovelhas. Verdade é que, não havendo ocasião ou necessidade, muitas vezes não conhecereis facilmente qual é pastor ou mercenário: porque quando o tempo está calmo e tranquilo, também se está com o ganho tanto o mercenário quanto o pastor; mas vindo o lobo se conhece qual é pastor, e qual é o mercenário, e o cuidado que cada um destes tem com suas ovelhas. 


Sabei que o lobo vem para junto das ovelhas, sempre que algum tirano maltrata aos cristãos pobres e humildes por ver que não oferecem grande resistência; e neste caso, o que parecia pastor e não era, deixa as ovelhas, esqueceu-se da salvação destas visando seu próprio interesse. E este fugir não se entende como mudança de lugar, nem indo de uma parte para a outra, mas deixando de pastorear as ovelhas com a consolação das palavras, e com a esmola das obras, segundo a necessidade.


Foge, também quando vê que as suas ovelhas são oprimidas, e se cala. Foge, por que se esconde na casa do silêncio, não querendo falar em favor delas. Pois, falando desses pastores o Senhor disse pela boca do profeta Ezequiel: “não subistes para ir ao encontro, nem pusestes muralha em defesa da casa de Israel, para que o dia do Senhor vos encontrasse no combate”. Pe. Paulo Sergio Gouveia

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