Com este domingo avançamos para o coração do advento. A preparação se
torna mais intensa, a certeza de que o Senhor vem se torna mais clara,
“aquele que nos chamou é fiel”. Por isso, a Igreja começa a liturgia
deste domingo nos convidando a alegria. E Paulo na segunda leitura
pedirá que “estejamos sempre alegres”.
Somos convidados à alegria, a
“exultar no Senhor”. O cristão se alegra, mesmo em meio às tribulações,
por que o Senhor é fiel. Ele nos prometeu um Salvador e este está à
porta, vai chegar.
O evangelho deste domingo inicia dizendo que
“Surgiu um homem enviado por Deus; seu nome era João”. A liturgia de
hoje nos apresenta a figura de João, que veio para dar testemunho de
Jesus. João era um asceta que vivia no deserto fazendo penitência e
tinha sido enviado por Deus para apontar o Messias.
Quando
interrogado sobre quem era a sua pessoa João afirmou que “Eu sou uma voz
que clama no deserto”. Comentando esta passagem diz Santo Agostinho:
“João era a voz passageira, Cristo é a Palavra eterna. A voz sem a
palavra é apenas um ruído que ressoa nos ouvidos, mas não alimenta o
coração”.
Pensemos um pouco: tenho uma palavra para dizer, esta
palavra está na minha mente, exteriorizo esta palavra através da minha
voz que faz com que a palavra chegue ao coração do meu ouvinte. A voz se
cala, mas a palavra permanece na minha mente, e também na mente do
ouvinte. Assim acontece na Trindade, o Pai tem uma Palavra que é eterna e
quer transmitir esta Palavra para os homens, então ele usa a voz, um
mensageiro, assim ele faz com que a palavra que estava no seu seio seja
colocada nos corações dos homens. Passa a voz e permanece a Palavra.
Na primeira leitura escutamos que “a terra faz brotar a planta e o
jardim faz nascer à semente”. A terra, o jardim onde cai a semente da
Palavra enviada pelo Pai e é proclamada pelo mensageiro é o nosso
coração.
Mas João diz que ele é “a voz que grita no deserto”.
Dizendo isso ele está fazendo o que deve fazer todo profeta: denunciar e
anunciar. João denuncia a aridez do nosso coração, que sendo um deserto
não conseguirá fazer com que a semente (Palavra) germine. E ao mesmo
tempo ele diz que devemos preparar a terra do nosso coração para que a
semente possa germinar.
O que devemos fazer para que esta semente
germine e de deserto nos transformemos em jardim? Precisamos regar com a
água e na Bíblia a água é figura do Espírito Santo. Voltemos para Santo
Agostinho: “O Espírito Santo é o Mestre interior. Ouço uma palavra que
me é transmitida pela voz. Esta palavra entra pelos meus ouvidos, passa
pela minha razão e chega ao meu coração. No meu coração está o Mestre
interior (o Espírito Santo) que fará com que a palavra ouvida e meditada
se torne compreensível para mim”. Podemos dizer que o Espírito Santo é o
decodificador da Palavra de Deus, sem Ele não entenderemos nada,
seremos um deserto.
Por isso, que preparar-se bem para viver o Natal
não deve partir apenas de um esforço pessoal para mudar de vida como se
isso dependesse de nós e sim pedir a graça de Deus, pedir o dom do
Espírito. Paulo na segunda leitura dirá que: “Aquele que vos chamou é
fiel; ele mesmo realizará isso”. Abramos o nosso coração para a ação do
Espírito, participemos intensamente da liturgia do tempo do advento,
rezemos com mais intensidade invocando o mesmo Espírito que pousou sobre
Maria. Ele apontará o que precisamos fazer para receber bem o Senhor. Pe. Paulo Sergio Gouveia.
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